Páginas

sábado, 23 de julho de 2011

Carlos Newton
Listas de apoio de eleitores em São Paulo e no Rio de Janeiro à criação do PSD, partido organizado pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab, foram preenchidas com assinaturas falsificadas. Em uma das fichas, de 10 assinaturas coletadas, 5 foram feitas pela mesma pessoa. Em ficha do Rio, há assinatura atribuída a um eleitor que já estava morto.
Em outros Estados, acontecem as mesmas irregularidades. A coleta de assinaturas para a criação do PSD é alvo de dois inquéritos da PF, no Paraná e em Santa Catarina. No Amazonas, um juiz eleitoral identificou fraude em dois terços de uma lista de assinaturas entregue em apoio à criação do PSD. A Polícia Federal vai periciar o documento para comprovar as falsificações.
A fraude foi constatada pelo cartório da 62ª zona eleitoral do Estado, em Manaus. De acordo com o juiz Carlos Zamith, das 900 assinaturas entregues em sua zona, cerca de 600 estão sob suspeita. As firmas da lista foram comparadas com as do caderno de votações.
“Apostaria o meu salário que foi uma pessoa que assinou uma das folhas inteirinha. A firmeza da escrita é a mesma”, disse Zamith.
Outras assinaturas foram entregues nas demais zonas eleitorais do AM. O juiz disse que funcionários identificaram um eleitor morto numa lista enviada à 59ª zona eleitoral de Manaus.
A coleta de assinaturas é uma exigência da Justiça Eleitoral para a criação de uma nova sigla. Kassab corre contra o tempo e precisa do aval do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) à assinatura de 490,3 mil eleitores até o dia 7 de outubro para que o novo partido participe das eleições municipais do ano que vem. Até agora, apenas cerca de 250 mil já foram certificadas por cartórios do país.
No Rio de Janeiro, o ex-deputado Indio da Costa, coordenador do PSD, disse que faz uma “checagem primária” das assinaturas, para evitar erros. Segundo ele, com esse procedimento, o partido já descartou 36 mil de cerca de 82 mil assinaturas coletadas, por ter identificado falhas.
Apanhado em flagrante, o prefeito Kassab disse o óbvio: que é responsabilidade da Justiça Eleitoral checar a autenticidade das assinaturas reunidas para a criação de seu partido, o PSD. é justamente o que todos esperam, que a Justiça se mexa.
Mas o que esperar de um partido como esse, que é uma espécie de Frankenstein político, montado basicamente com parlamentares de oposição, que de repente resolveram aderir ao governo federal?
A MORTE DA MEMÓRIA NACIONAL
A tentativa do prefeito Gilberto Kassab de fundar o PSD agride a memória nacional, não pelo seu direito líquido e certo de criar uma nova legenda, mas pela escolha da sigla. Afinal, o Partido Social Democrático constituiu-se na grande escola política brasileira, até no dizer de um de seus mais ferrenhos adversários, Carlos Lacerda. Experiência, capacidade, malícia e espírito público foram características do velho PSD, amplamente majoritário no Congresso, nas Assembléias, nas prefeituras e governos estaduais. Na presidência da República, emplacou Eurico Dutra, Nereu Ramos, Raniéri Mazzilli e Juscelino Kubitschek, sem esquecer o decisivo apoio dado a Getúlio Vargas e a João Goulart. Para impedir o partido de continuar como árbitro da política e das principais decisões nacionais, o marechal Castelo Branco precisou extinguí-lo por um Ato Institucional.
Pois vem agora o alcaide paulistano, sem pudor nem imaginação, escolher a mesma denominação para a aventura que pretende encenar. Falta-lhe memória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário