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segunda-feira, 4 de abril de 2011

04 de abril de 2011 | 05:10
Helio Fernandes
Os números são oficiais e assustadores, divulgados pela própria indústria automobilística: nos três primeiros meses deste 2011 (janeiro, fevereiro e março), produziram 875 mil automóveis. Confirmam que exportaram apenas 90 mil, portanto 785 mil foram vendidos no Brasil, e logicamente jogados nas ruas.
A mais favorecida das multinacionais (camufladas de nacionais) se orgulha do fato que badalam através do maior número de amestrados: “Botamos diariamente no trânsito de São Paulo, mil carros, e 500 no Rio”. Podem comentar à vontade, é das maiores deficiências ou precariedades do Brasil.
Enquanto a produção de carros, rigorosamente individual, cresce dessa maneira, o transporte de massa decresce, como se isso fosse possível. Pois na matéria estamos na Idade da Pedra. Enquanto no mundo todo os metrôs festejam os 100 anos, no Brasil, começamos a planejá-los.
Assim como está é impossível ir ou vir, como a Constituição finge que garante. E não se pode nem ficar (não no sentido em que se expressam os mais jovens), pois não existe estacionamento em lugar algum. E os estacionamentos de empresas (e até de hospitais) cobram barbaramente por algum tempo.
Os governos estaduais e municipais, sem exceção, cobram IPVAs e impostos altíssimos, o DETRAN exige uma porção de coisas, mas não retribuem. Acontece no setor importantíssimo do transporte o mesmo que acontece no geral, aí incluído o governo federal: cobram impostos cada vez mais altos, mas o cidadão-contribuinte-eleitor não tem direito a coisa alguma.
Tomemos como base o engarrafamento que já existe, acrescentemos dois fatores. 1 – Os governos não se preocupam com transporte de massa ou em entregar esses setores a arquitetos-urbanistas. Com mais mil carros entrando em circulação em São Paulo e 500 no Rio, qual será a conclusão? 365 mil automóveis a mais por ano em São Paulo, 182,5 mil no Rio. Como conciliar as coisas?
Vejamos rapidamente. As três maiores capitais do Norte/Nordeste (Fortaleza, Recife, Salvador) não têm metrô. Milhões e milhões de pagadores de impostos, inteiramente abandonados pelos governos.
Os três grandes estados do Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) não recebem a mínima atenção, sofrem com a dificuldade de se transportar, fato obrigatório, mas não saem do lugar. Tão grave quanto esses exemplos, acontece em outras capitais.
Brasília, dita capital apenas da inegável mordomia, desperdício e hipocrisia, segundo seu planejador, o grande Lúcio Costa, “não teria cruzamento nem sinais de trânsito (semáforos)”. Hoje, além da corrupção, as duas coisas que mais existem são pedestres sem poder atravessar as ruas, sinais completamente ultrapassados. E é uma cidade plana.
Existem em Brasília, 32 ou 33 das chamadas cidades-satélites, com 200 e até 300 mil habitantes. Há mais ou menos 10 anos, construíram 3 ou 4 linhas de metrô, e pararam. E esse seria o metrô mais barato do mundo, de superfície, sem desapropriação ou indenização.
Isso não é crime contra o cidadão? Ou como dizia o grande La Guardia, prefeito de Nova Iorque. “Eu tenho que fazer e estar em todos os lugares. Ninguém me pediu para ser prefeito, eu é que quis e me candidatei”.
 ***
PS – Dentro de 18 anos, no máximo, como prefeitos e governadores são inativos e inatingíveis, ninguém sairá de casa. No máximo, sairão, darão uma volta, da esquina voltarão, exaustos e impossibilitados de chegarem a algum lugar.
PS2 – Não existe, no horizonte, o menor sinal de modificação. Falam muito na “herança” da Copa e da Olimpíada (para o Rio). O que se repetirá: a história do Panamericano. O que desejamos: o que aconteceu em Barcelona, e pelo jeito se repetirá em Londres, no ano que vem.

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